A ética concerne à teoria e à prática
morais, consideradas do ponto de vista de uma situação fundadora, com
perspectiva sobre um futuro imediato ou longínquo, a ética é inseparável de um
método.
As morais e a ética também se opõem e se complementam
segundo aquilo que os anglo-saxões propõem como, de um lado, a ética normativa
e, de outro, a meta-ética. O traço desta posição se acharia completado num
tríptico entre moral, ética, eticologia, oferecendo uma distinção pertinente.
Em todo caso, as dificuldades atuais, que são as da moral, poderiam favorecer
um novo desenvolvimento da ética.
A realidade simbólica da moral, tal
como a revela a ética enquanto ciência normativa, permite compreender por que e
como há sujeito moral, por que mostra o que anima os indivíduos de uma
sociedade, a partir de um “foro interior”, uma disposição interior de sofrer as
formalidades exteriores ou, dito de outro modo, o formalismo de lei que Kant
reconhece como sendo a lei moral na sua pura característica formal, ou ainda um
recalque original que Freud coloca na base de todos os recalques ulteriores. E
é intencionalmente que fazemos o paralelo entre o racional e o empírico.
Como a lei moral considerada por Kant,
a lei do símbolo é formadora e formalizadora, no seu foro interior, o Outro (ou
Deus) age como lei do símbolo, transformando um eu que é virtualmente tudo, mas
que não é nada, ainda, nihit negativum, “objeto vazio sem conceito”, num
sujeito moral para a comunidade; esta concede-lhe seu reconhecimento, pela virtude
da forma da lei, comunicada da parte ao todo e do todo à parte. A
universalidade dos princípios de ação, aliando-se ao princípio da legalidade, o
sujeito pressentido comanda e obedece ao mesmo tempo, na perspectiva final de
um conceito de homem, ao qual se conforma.
A reflexão ética impôs-se como a
filosofia, numa civilização em ruptura com mito. É, contudo, a pessoa de
Sócrates que cristaliza o passo ético dado no século V e principalmente uma
tentativa de generalização do problema ético segundo um princípio que permite
afirmar que o que é bom para alguém deve igualmente sê-lo para outro, colocado
nas mesmas circunstâncias. As principais teses socráticas podem resumidamente
ser enunciadas segundo as quatro fórmulas prodicianas: 1. Ciência, a virtude é
ensinada; 2. Para fazer o bem e ser feliz, basta conhecer a própria natureza;
3. A sabedoria é a primeira das ciências, necessária a todas as coisas; 4. Esta
ciência do homem sendo uma, compreende tanto o que aos negócios públicos.
A lição ética de Sócrates consiste
sobretudo na verdadeira conclusão que deve surgir de suas indagações, que
permanecem frequentemente aquém da definição buscada, conclusão que põe em
evidência a necessidade de um código moral para justificar as ações humanas e a
dificuldade, sempre renovada, do cumprimento da perfeição moral face a um ideal
que não pode ser alcançado nunca, mas somente aproximado, conforme Platão
esclarecerá.
A única saída do impasse ético é vista
por Platão na teoria das idéias, que foi o fundamento de um sistema levando em
conta a natureza de Deus e do homem e apoiando os princípios éticos. Esta
separação implicou, para Platão, a separação do conhecimento sensível do
conhecimento das coisas ternas, ou mundo das Ideias. Ora, o mundo das Ideias
divide-se entre as Ideias matemáticas e Ideias éticas, para Platão são as
Ideias eternas as quais pode-se fixar os primeiros axiomas, a fim de deduzir
destas as proposições lógicas que enunciam os princípios éticos. Porque há o
que reside nas vozes (nomes e definições) e há o que reside nas figuras
corporais (a imagem do círculo, quer desenho, quer escultura), e enfim, há o
que reside nas almas (a ciência, a inteligência e a opinião verdadeira.
Ignorando ou querendo ignorar a
necessidade condicional, Platão escapa à contradição, invocando a
especificidade dos movimentos da alma, a serviço da liberdade moral. A ética
que propõe está acima da dialética do mundo sensível, assim como a ordem da
natureza está acima da ordem natural das ciências positivas. É impossível, na lógica
de Platão, que a ordem da natureza possa “ser”, sem supor a necessidade de uma
razão divina ou sem corresponder a uma alma do universo, compreendida como alma
racional. É que a ordem da natureza nos remete a seu criador. Platão faz, apelo
a uma dupla necessidade, divina e humana, o que, no que tange à necessidade
divina, invalida a necessidade condicional, à qual as coisas sensíveis estão
submetidas, mas não as almas. Logo, as ideias matemáticas e as ideias éticas
participam da necessidade divina.
Para Aristóteles, é preciso pois
distinguir, no possível referente à realidade, e oposto ao possível lógico ou
matemático, a essência e o acidente; para ele alguns pensam que nos tornamos
bons por natureza, outros dizem que é por hábito, outros, enfim, que é por
ensinamento. O raciocínio e o ensino, por sua vez não são, temo, igualmente
potentes em todos os homens, mas é preciso cultivar previamente, por meio de
hábitos, a alma do ouvinte, tendo em vista fazê-lo apreciar ou detestar aquilo
que deve sê-lo, como uma terra a fazer frutificar a semente. Porque o homem que
vive sob o império da paixão não poderá escutar um raciocínio que busque
desviá-lo de seu vício e sequer o compreenderá. Mas o homem que está em tal
estado, como será dá, parece que a paixão ceda ao raciocínio, mas à força. “É
preciso, pois que o caráter já tenha uma disposição própria para a virtude,
amando o que é nobre e não suportando o que é vergonhoso.
A dupla necessidade do cuidado
político e do cuidado individual, na ética aristotélica. Esta, com efeito,
pressupões a obrigação da lei, para que a eventualidade contingente da virtude,
nem necessária nem impossível, tente sua causalidade política exercendo seus
efeitos num indivíduo submetido a bons hábitos com relação a lei.
Do ponto de vista do destino da ética
ocidental, Platão e Aristóteles representam dois pólos permanentes: um
reunindo, por assim dizer, o feixe de tendências religiosas e idealistas, a
partir da metafísica platônica; o outro, agrupando de modo análogo as
tendências naturalistas ou até materialistas, em torno do pensamento pragmático
aristotélico.
Bibliografia
KREMER
– MARIETTI, Angéle. A Ética.
Campinas, SP: Papirus, 1989.
Autores
Arley
Donato dos Santos
Clodoaldo
de Mello Mendes
Luís Gustavo da Silva Neves
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