quinta-feira, 7 de junho de 2012

Ética


A ética concerne à teoria e à prática morais, consideradas do ponto de vista de uma situação fundadora, com perspectiva sobre um futuro imediato ou longínquo, a ética é inseparável de um método.
 As morais e a ética também se opõem e se complementam segundo aquilo que os anglo-saxões propõem como, de um lado, a ética normativa e, de outro, a meta-ética. O traço desta posição se acharia completado num tríptico entre moral, ética, eticologia, oferecendo uma distinção pertinente. Em todo caso, as dificuldades atuais, que são as da moral, poderiam favorecer um novo desenvolvimento da ética.
A realidade simbólica da moral, tal como a revela a ética enquanto ciência normativa, permite compreender por que e como há sujeito moral, por que mostra o que anima os indivíduos de uma sociedade, a partir de um “foro interior”, uma disposição interior de sofrer as formalidades exteriores ou, dito de outro modo, o formalismo de lei que Kant reconhece como sendo a lei moral na sua pura característica formal, ou ainda um recalque original que Freud coloca na base de todos os recalques ulteriores. E é intencionalmente que fazemos o paralelo entre o racional e o empírico.
Como a lei moral considerada por Kant, a lei do símbolo é formadora e formalizadora, no seu foro interior, o Outro (ou Deus) age como lei do símbolo, transformando um eu que é virtualmente tudo, mas que não é nada, ainda, nihit negativum, “objeto vazio sem conceito”, num sujeito moral para a comunidade; esta concede-lhe seu reconhecimento, pela virtude da forma da lei, comunicada da parte ao todo e do todo à parte. A universalidade dos princípios de ação, aliando-se ao princípio da legalidade, o sujeito pressentido comanda e obedece ao mesmo tempo, na perspectiva final de um conceito de homem, ao qual se conforma.
A reflexão ética impôs-se como a filosofia, numa civilização em ruptura com mito. É, contudo, a pessoa de Sócrates que cristaliza o passo ético dado no século V e principalmente uma tentativa de generalização do problema ético segundo um princípio que permite afirmar que o que é bom para alguém deve igualmente sê-lo para outro, colocado nas mesmas circunstâncias. As principais teses socráticas podem resumidamente ser enunciadas segundo as quatro fórmulas prodicianas: 1. Ciência, a virtude é ensinada; 2. Para fazer o bem e ser feliz, basta conhecer a própria natureza; 3. A sabedoria é a primeira das ciências, necessária a todas as coisas; 4. Esta ciência do homem sendo uma, compreende tanto o que aos negócios públicos.
A lição ética de Sócrates consiste sobretudo na verdadeira conclusão que deve surgir de suas indagações, que permanecem frequentemente aquém da definição buscada, conclusão que põe em evidência a necessidade de um código moral para justificar as ações humanas e a dificuldade, sempre renovada, do cumprimento da perfeição moral face a um ideal que não pode ser alcançado nunca, mas somente aproximado, conforme Platão esclarecerá.
A única saída do impasse ético é vista por Platão na teoria das idéias, que foi o fundamento de um sistema levando em conta a natureza de Deus e do homem e apoiando os princípios éticos. Esta separação implicou, para Platão, a separação do conhecimento sensível do conhecimento das coisas ternas, ou mundo das Ideias. Ora, o mundo das Ideias divide-se entre as Ideias matemáticas e Ideias éticas, para Platão são as Ideias eternas as quais pode-se fixar os primeiros axiomas, a fim de deduzir destas as proposições lógicas que enunciam os princípios éticos. Porque há o que reside nas vozes (nomes e definições) e há o que reside nas figuras corporais (a imagem do círculo, quer desenho, quer escultura), e enfim, há o que reside nas almas (a ciência, a inteligência e a opinião verdadeira.
Ignorando ou querendo ignorar a necessidade condicional, Platão escapa à contradição, invocando a especificidade dos movimentos da alma, a serviço da liberdade moral. A ética que propõe está acima da dialética do mundo sensível, assim como a ordem da natureza está acima da ordem natural das ciências positivas. É impossível, na lógica de Platão, que a ordem da natureza possa “ser”, sem supor a necessidade de uma razão divina ou sem corresponder a uma alma do universo, compreendida como alma racional. É que a ordem da natureza nos remete a seu criador. Platão faz, apelo a uma dupla necessidade, divina e humana, o que, no que tange à necessidade divina, invalida a necessidade condicional, à qual as coisas sensíveis estão submetidas, mas não as almas. Logo, as ideias matemáticas e as ideias éticas participam da necessidade divina.
Para Aristóteles, é preciso pois distinguir, no possível referente à realidade, e oposto ao possível lógico ou matemático, a essência e o acidente; para ele alguns pensam que nos tornamos bons por natureza, outros dizem que é por hábito, outros, enfim, que é por ensinamento. O raciocínio e o ensino, por sua vez não são, temo, igualmente potentes em todos os homens, mas é preciso cultivar previamente, por meio de hábitos, a alma do ouvinte, tendo em vista fazê-lo apreciar ou detestar aquilo que deve sê-lo, como uma terra a fazer frutificar a semente. Porque o homem que vive sob o império da paixão não poderá escutar um raciocínio que busque desviá-lo de seu vício e sequer o compreenderá. Mas o homem que está em tal estado, como será dá, parece que a paixão ceda ao raciocínio, mas à força. “É preciso, pois que o caráter já tenha uma disposição própria para a virtude, amando o que é nobre e não suportando o que é vergonhoso.
A dupla necessidade do cuidado político e do cuidado individual, na ética aristotélica. Esta, com efeito, pressupões a obrigação da lei, para que a eventualidade contingente da virtude, nem necessária nem impossível, tente sua causalidade política exercendo seus efeitos num indivíduo submetido a bons hábitos com relação a lei.
Do ponto de vista do destino da ética ocidental, Platão e Aristóteles representam dois pólos permanentes: um reunindo, por assim dizer, o feixe de tendências religiosas e idealistas, a partir da metafísica platônica; o outro, agrupando de modo análogo as tendências naturalistas ou até materialistas, em torno do pensamento pragmático aristotélico.


Bibliografia
KREMER – MARIETTI, Angéle. A Ética. Campinas, SP: Papirus, 1989.


Autores

Arley Donato dos Santos
Clodoaldo de Mello Mendes
Luís Gustavo da Silva Neves

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