quinta-feira, 7 de junho de 2012

HEDONISMO


Hedonismo é o nome que se dá à  tendência, na filosofia moral, que identifica o bem com o prazer. O vocábulo “hedonismo” tem tido tantos sentidos quanto o termo “prazer”.
Se prescindirmos das consideráveis diferenças entre os diversos pensadores hedonistas ou as diversas escolas hedonistas ou as diversas escolas hedonistas, consideremos que uma moral hedonista foi defendida pelos cirenaicos e os epicuristas antigos, pelos epicuristas (Gassendi, Valla, etc.), os materialistas do século XVIII, em especial os materialistas franceses (Helvétius, Holbach, La Mettrie, etc.) e os utilitaristas ingleses (pelo menos, J. Bentham). De um modo geral, Spinoza e Hobbes são incluídos entre hedonistas, mas alguns historiadores divergem dessa opinião.
O hedonismo teve muitos inimigos, por motivos os mais diversos: Platão, numerosos filósofos cristãos – sobretudo os de tendência ascética –, Kant e outros pensadores foram anti-hedonistas. Em geral, o hedonismo foi frenquente objeto de crítica e, em alguns casos, de menosprezo. Tentou-se excepcionalmente defender o hedonismo sem paliativos, não tanto por amor ao prazer quanto por motivos racionais; é o caso de W. H. Sheldon em “The Absolute Truth of Hedonism”, The Journal of Philosophy, XLVII, 1950, PP. 285-304. Segundo Sheldon, “o hedonismo ético é o imprativo categórico”.
Houve muitas discussões sobre o significado, formas, suposições e razões do hedonismo. Os hedonistas antigos, especialmente os cineraicos, consideravam que o bem é o prazer e o mal é a dor. O homem “deve” dedicar-se a buscar o primeiro e a evitar o segundo. Até que ponto evitar a dor seria uma forma de prazer tem sido uma questão muito discutida. No tocante ao prazer, os cirenaicos pareciam sublinhar o prazer dos sentidos ou “prazer material”, nem sempre contra o “prazer espiritual”, mas como fundamento indispensável deste ultimo. Como esse “prazer sensível” é algo presente, houve a propensão para considerar que só o prazer atual é um bem verdadeiro. Contra os cirenaicos arguiu-se que os prazeres podem produzir dores. Responder-se a isso que o “dever” de todo hedonistas é busca prazeres (ou melhor, a satisfação dos desejos) de tal forma que se evitem dores subsequentes. Também se argumentou contra os cirenaicos que a doutrina hedonista é egoísta e que o prazer de um pode resultar na dor de outro. Por isso os cirenaicos apontaram para uma doutrina não egoísta dos prazeres, mas não parece que a tenham desenvolvido de forma consequente. Quanto aos epicuristas, destacaram eles a importância dos “prazeres moderados”, os únicos que permitem evitar as dores, assim como a importância de certa “participação nos prazeres” através de uma comunidade de amigos. Nos epicuristas, os prazeres aparecem como de natureza menos “sensível” que nos cirenaicos; assim, para os epicuristas a conversação amistosa era um dos prazeres que se podia buscar sem incorrer-se em dor.
Um argumento muito comum contra o hedonismo é que, na verdade, não se deseja o prazer mas o objeto que proporciona o prazer. Mas pode-se argumentar a esse respeito que, se se busca tal objeto (com atitude hedonista) é porque ele proporciona prazer – ou espera-se que o proporcione. O prazer como bem dos hedonistas é, pois, o objeto enquanto gozado, não objeto em si mesmo. Quando os hedonistas dizem que o maior bem é o prazer, não querem  necessariamente dizer que há certo "objeto" passível de ser identificado com o prazer.
Outras críticas ao hedonismo foram formuladas desde o ponto de vista de uma moral muito diversa. Assim, por exemplo, Kant critica o hedonismo como uma das morais "materiais"; nenhuma dessas morais é capaz de proporcionar completa segurança sobre os conceitos morais fundamentais, como o faz uma moral "formal". Também se criticou o hedonismo do ponto de vista da chamada "moral dos valores"; nesta moral, o hedonismo nem sempre é eliminado, mas o prazer é um valor de natureza inferior do desejo (appetitus sensitivus) e a faculdade superior do desejo (appetitus rationalis). Alguns hedonistas, sobretudo os de tendência epicurista, poderiam arguir a essa objeção que, pra eles, o desejo do prazer como bem supremo é "uma faculdade superior (racional)" do desejo. Um tipo distinto de crítica é o de G. E. Moore (Principia Ethica, I ,III), quando indica que o hedonismo mé uma forma de naturalismo e comete a "falácia naturalista". O  hedonista afirma que só o prazer é bom como um fim ou em si mesmo. Com isso esquece que "bom" é o nome de uma qualidade irredutível. Por outro lado, os hedonistas que afirmam (como Sidgwick) que o bem por eles proposto é um qualidade irredutível falham em mostrar intuitivamente tal qualidade.
As objeções ao hedonismo como manifestação de egoísmo foram objeto de análises por parte de hedonistas de tendência utilitarista, como Bentham, J. S. Mill e Spencer. Para Bentham, os prazeres diferem segundo a quantidade e segundo a causa que os produz. Há, segundo ele, quatorze diferentes categorias de prazeres: dos sentidos, riquezas, habilidade, amizade, bom nome, poder, piedade, benevolência, malevolência, memória, imaginação, expectação associação e alívio. Entre estes prazeres, há os que se encontram decididamente projetados para o aumento da felicidade do próximo. Todo hedonismo "bem entendido" exige um "cálculo de prazeres". Um hedonismo altruísta é também defendido por J. S. Mill. para quem amar ao próximo como a si mesmo é uma das consequências de uma moral hedonista, por assim dizer, "aberta". Quanto a Spencer, combinou uma moral hedonista com uma doutrina evolucionista, procurando mostrar que esta última constitui a base científica da primeira.


Bibliografia:
FERRATER MORA, José. Dicionário de Filosofia – 3ed. São Paulo: Martins Fontes 1993. 

Autores:
Camilla Borges Almeida e Silva,
Maria Paula de Abreu Ferreira e
Isabela Matias Ribeiro e Silva.

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