Hedonismo é o nome que se dá à
tendência, na filosofia moral, que identifica o bem com o prazer. O
vocábulo “hedonismo” tem tido tantos sentidos quanto o termo “prazer”.
Se prescindirmos das consideráveis diferenças entre os diversos
pensadores hedonistas ou as diversas escolas hedonistas ou as diversas escolas
hedonistas, consideremos que uma moral hedonista foi defendida pelos cirenaicos
e os epicuristas antigos, pelos epicuristas (Gassendi, Valla, etc.), os
materialistas do século XVIII, em especial os materialistas franceses
(Helvétius, Holbach, La Mettrie, etc.) e os utilitaristas ingleses (pelo menos,
J. Bentham). De um modo geral, Spinoza e Hobbes são incluídos entre hedonistas,
mas alguns historiadores divergem dessa opinião.
O hedonismo teve muitos inimigos, por motivos os mais diversos:
Platão, numerosos filósofos cristãos – sobretudo os de tendência ascética –,
Kant e outros pensadores foram anti-hedonistas. Em geral, o hedonismo foi
frenquente objeto de crítica e, em alguns casos, de menosprezo. Tentou-se
excepcionalmente defender o hedonismo sem paliativos, não tanto por amor ao
prazer quanto por motivos racionais; é o caso de W. H. Sheldon em “The Absolute
Truth of Hedonism”, The Journal of Philosophy, XLVII, 1950, PP. 285-304.
Segundo Sheldon, “o hedonismo ético é o imprativo categórico”.
Houve muitas discussões sobre o significado, formas, suposições e
razões do hedonismo. Os hedonistas antigos, especialmente os cineraicos,
consideravam que o bem é o prazer e o mal é a dor. O homem “deve” dedicar-se a
buscar o primeiro e a evitar o segundo. Até que ponto evitar a dor seria uma
forma de prazer tem sido uma questão muito discutida. No tocante ao prazer, os
cirenaicos pareciam sublinhar o prazer dos sentidos ou “prazer material”, nem
sempre contra o “prazer espiritual”, mas como fundamento indispensável deste
ultimo. Como esse “prazer sensível” é algo presente, houve a propensão para
considerar que só o prazer atual é um bem verdadeiro. Contra os cirenaicos
arguiu-se que os prazeres podem produzir dores. Responder-se a isso que o
“dever” de todo hedonistas é busca prazeres (ou melhor, a satisfação dos
desejos) de tal forma que se evitem dores subsequentes. Também se argumentou
contra os cirenaicos que a doutrina hedonista é egoísta e que o prazer de um
pode resultar na dor de outro. Por isso os cirenaicos apontaram para uma
doutrina não egoísta dos prazeres, mas não parece que a tenham desenvolvido de
forma consequente. Quanto aos epicuristas, destacaram eles a importância dos
“prazeres moderados”, os únicos que permitem evitar as dores, assim como a
importância de certa “participação nos prazeres” através de uma comunidade de
amigos. Nos epicuristas, os prazeres aparecem como de natureza menos “sensível”
que nos cirenaicos; assim, para os epicuristas a conversação amistosa era um
dos prazeres que se podia buscar sem incorrer-se em dor.
Um argumento muito comum contra o hedonismo é que, na verdade, não se
deseja o prazer mas o objeto que proporciona o prazer. Mas pode-se argumentar a
esse respeito que, se se busca tal objeto (com atitude hedonista) é porque ele
proporciona prazer – ou espera-se que o proporcione. O prazer como bem dos
hedonistas é, pois, o objeto enquanto gozado, não objeto em si mesmo. Quando os
hedonistas dizem que o maior bem é o prazer, não querem necessariamente dizer que há certo
"objeto" passível de ser identificado com o prazer.
Outras críticas ao hedonismo foram formuladas desde o ponto de vista
de uma moral muito diversa. Assim, por exemplo, Kant critica o hedonismo como
uma das morais "materiais"; nenhuma dessas morais é capaz de
proporcionar completa segurança sobre os conceitos morais fundamentais, como o
faz uma moral "formal". Também se criticou o hedonismo do ponto de
vista da chamada "moral dos valores"; nesta moral, o hedonismo nem
sempre é eliminado, mas o prazer é um valor de natureza inferior do desejo
(appetitus sensitivus) e a faculdade superior do desejo (appetitus rationalis).
Alguns hedonistas, sobretudo os de tendência epicurista, poderiam arguir a essa
objeção que, pra eles, o desejo do prazer como bem supremo é "uma
faculdade superior (racional)" do desejo. Um tipo distinto de crítica é o
de G. E. Moore (Principia Ethica, I ,III), quando indica que o hedonismo mé uma
forma de naturalismo e comete a "falácia naturalista". O hedonista afirma que só o prazer é bom como
um fim ou em si mesmo. Com isso esquece que "bom" é o nome de uma
qualidade irredutível. Por outro lado, os hedonistas que afirmam (como
Sidgwick) que o bem por eles proposto é um qualidade irredutível falham em
mostrar intuitivamente tal qualidade.
As objeções ao hedonismo como manifestação de egoísmo foram objeto de
análises por parte de hedonistas de tendência utilitarista, como Bentham, J. S.
Mill e Spencer. Para Bentham, os prazeres diferem segundo a quantidade e
segundo a causa que os produz. Há, segundo ele, quatorze diferentes categorias
de prazeres: dos sentidos, riquezas, habilidade, amizade, bom nome, poder,
piedade, benevolência, malevolência, memória, imaginação, expectação associação
e alívio. Entre estes prazeres, há os que se encontram decididamente projetados
para o aumento da felicidade do próximo. Todo hedonismo "bem
entendido" exige um "cálculo de prazeres". Um hedonismo
altruísta é também defendido por J. S. Mill. para quem amar ao próximo como a
si mesmo é uma das consequências de uma moral hedonista, por assim dizer,
"aberta". Quanto a Spencer, combinou uma moral hedonista com uma doutrina
evolucionista, procurando mostrar que esta última constitui a base científica
da primeira.
Bibliografia:
FERRATER
MORA, José. Dicionário de
Filosofia – 3ed. São Paulo:
Martins Fontes 1993.
Autores:
Camilla Borges
Almeida e Silva,
Maria Paula de
Abreu Ferreira e
Isabela
Matias Ribeiro e Silva.
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