domingo, 10 de junho de 2012

CETICISMO


O ceticismo é um dos principais assuntos filosóficos da atualidade. Vivemos em uma época em que muitas crenças são questionadas, que sobre tudo se discute e desconfia de verdades absolutas e eternas. Historicamente, a liberdade de pensamento favoreceu o surgimento e desenvolvimento do ceticismo. Seu ambiente natural é uma sociedade democrática, pluralista e tolerante, na qual as diversas culturas possam viver pacificamente. Por isso, os céticos rejeitam sociedades e instituições autoritárias, em que uma única linha de pensamento é imposta a todos, deixando pouco espaço para a reflexão crítica.
O ceticismo, no entanto, é um tipo particular de filosofia, pois não é constituído por um conjunto de teses sobre as coisas, nem pretende ser um conhecimento. A característica principal do cético é manter uma atitude crítica diante da pretensão dogmática de ter descoberto a verdade. Desconfiar das afirmações precipitadas desses filósofos e questionar suas teses são sua marca registrada. É por isso que o ceticismo é uma forma atual de filosofar.
Assim, os céticos nos oferecem, não um pretenso conhecimento sobre as coisas, mas um discurso complexo e sofisticado. Nesse sentido, organizaram diferentes formas de argumentação que se podem empregar para combater o dogmatismo e estabelecer que a verdade ainda não foi descoberta. Os céticos são aqueles que mostram, por meio de uma argumentação que lhes é peculiar, que não há nenhuma garantia de que conhecemos aquilo que alegamos conhecer. Segundo eles, não conhecemos nada, não temos certeza de nada e podemos colocar tudo em dúvida; sequer sabemos que nada sabemos.
Devido esse caráter crítico e meticuloso, reconheceu-se o desafio cético como um obstáculo inevitável para qualquer filosofia que pretendesse assegurar a verdade de suas teses. Refutar o ceticismo tornou-se uma obsessão dos filósofos dogmáticos, sobre tudo daqueles que se interessam pela teoria do conhecimento, já que a possibilidade do conhecimento e a descoberta da verdade é um assunto essencial para os céticos.
O ceticismo ocupa-se, sobretudo, com questões éticas, tendo uma certa desconfiança com relação às aquisições científicas.
Um dos resultados mais fascinantes trazidos por esses novos estudos é a riqueza das formas assumidas pelo ceticismo moderno. Talvez se possa distinguir, no período moderno, três formas principais de ceticismo. Primeiro, uma atualização do ceticismo grego, feita por Michel de Montaigne e, posteriormente, por Pierre Bayle, na qual a razão se perde ao defender os dois lados de uma questão, sem jamais poder decidir-se por qualquer um deles. A razão, nessa forma de ceticismo, estaria dividida e, sendo capaz de argumentar de maneira persuasiva tanto a favor de uma tese, como contra esta, acabaria por não ser capaz de estabelecer nenhuma verdade. Essa forma de ceticismo ocupa-se, sobretudo, com questões éticas, tendo uma certa desconfiança com relação às aquisições científicas.
Segundo, o ceticismo cartesiano, que se caracterizaria por sua dúvida universal e pela pretensão de pôr em xeque todos os nossos conhecimentos de uma só vez a partir de uns poucos argumentos gerais, mas supostamente devastadores. Não se questionariam teses isoladas, mas o conhecimento como um todo, a partir da dúvida sobre os princípios em que nossos conhecimentos se apoiariam. Assim, os argumentos empregados pelo cético cartesiano levariam adiante os argumentos dos céticos antigos e seriam, ao menos supostamente, ainda mais radicais. Esse tipo de ceticismo tem um papel eminentemente metodológico e é empregado também por filósofos como uma espécie de propedêutica para a parte positiva e construtiva de sua filosofia dogmática.
Finalmente, o ceticismo elaborado por David Hume a partir de sua ciência da natureza humana. Hume, o mais engenhoso dos céticos, segundo Kant, teria inventado uma forma extremamente original de ceticismo. Ao investigar a mente humana, Hume mostraria como esta funciona de modo imperfeito e, mesmo, contraditório, já que nossas crenças mais básicas, como a crença nos corpos, na identidade pessoal e nas relações causais, estariam repletas de passos ilegítimos, ficções e contradições.
Percebe-se, assim, como o ceticismo é, após dois milênios e meio, um assunto relevante e polêmico entre nós, constituindo um dos raros campos em que a Filosofia não está restrita aos estudos históricos. Não por acaso, há um vivo interesse por essa doutrina tão instigante e desafiadora, que não costuma deixar o leitor indiferente e instiga-o à reflexão própria. O ceticismo tem desempenhado, dessa forma, o papel de um convite à Filosofia.

Bibliografia
SMITH, Plínio Junqueira. Ceticismo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

Autores:
Kleber Soares dos Santos
Síssi Miranda Barcelos

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